Entre mais de 400 pessoas que acompanharam ao longo de um dia e meio os debates sobre o uso de tecnologias no agronegócio, durante o Fórum de Agricultura da América do Sul, que ocorreu em Curitiba, era comum ouvir conversas de gente que estava abrindo mão de profissões consolidadas para voltar ao campo. Fernanda Frozza era uma delas. Formada há 12 anos em direito, a advogada deixou graduação, mestrado e uma vaga no Tribunal de Justiça do Paraná para voltar para a propriedade dos pais no interior do estado.
“É uma questão cultural. São muitas gerações que trabalham com a terra na minha família e meus pais são produtores rurais. Trabalham com soja e milho e vi que posso aprender nessa realidade familiar”, disse ela, ao descrever a inquietude que sentia com o cômodo emprego.
“Queria um trabalho que me conectasse mais com essa realidade incerta e indeterminada. Estou buscando um conhecimento multidisciplinar e acho que a agricultura trata muito sobre isto”, completou.
Fernanda agora se juntou aos pais e à irmã, que já estava trabalhando na produção que funciona em modelo cooperativo na região. Apesar de todos se manterem “antenados” com as informações sobre produtividade, ela tem buscado se atualizar para incrementar os negócios da família.
“Participar desse fórum é justamente para ter ideia do que está surgindo de novo dentro do novo agronegócio. É evidente o tanto que a tecnologia aumenta a produtividade e traz facilidades para a vida dos trabalhadores rurais, mas é necessário saber como utilizar tudo isso”, disse.
Tecnologias
Essa capacitação e formação dos profissionais que atuam no campo foi uma das questões mais debatidas entre especialistas que exaltaram o volume de tecnologias disponíveis para o agronegócio atualmente. O administrador Almir Merinerz, diretor da empresa SPRO It Solutions, apresentou o projeto piloto que vem sendo desenvolvido há cerca de um ano em granjas no interior do Paraná.
Um dos braços da empresa que desenvolve sensores instalou 20 equipamentos dentro de aviários para monitorar a ambiência, com verificação de temperatura, umidade, luminosidade, além de balanças para controlar o peso dos frangos e das rações dispostas para os animais.
“Não é o sensor que faz a melhora da produtividade. Ele vai te dar o dado que você transforma em informação importante e agir em cima das causas, mudando o manejo. Esse manejo que vai te dar um resultado”, afirmou. Com o monitoramento, o granjeiro e a agroindústria que coordena a produção recebe informações sobre as condições locais e pode ajustar qualquer variável ainda no ciclo de alojamento dos animais.
Segundo ele, o projeto experimental em duas granjas já resultou em melhora na rentabilidade do lote de uma média de 25% em um ano. A ideia agora é replicar o modelo para mais propriedades, mas Merinerz reconhece que a realidade de outras regiões, como o Centro-Oeste e Nordeste do país enfrentam o problema da falta de conectividade com a internet no campo.
Conexão
De acordo com José Marcos Câmara Brito, do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), este é um desafio para grande parte do país, mas também não é um problema exclusivo do Brasil. “Temos 4 bilhões de pessoas desconectadas no mundo todo”, disse. Segundo ele, as atuais tecnologias como o 4G ainda estão limitados pelas taxas de transmissão de dados, capacidade de chegar a distâncias superiores a 15 quilômetros de distância ou alto custo.
Brito disse que o setor privado tem feito esforço para convencer a comunidade internacional a pensar em uma tecnologia 5G, que já vem sendo desenvolvida, com foco também nesta área rural. De acordo com Brito, há um protótipo baseado nessa nova tecnologia em desenvolvimento que pode chegar ao mercado em 2020, podendo suprir essa lacuna da falta de conectividade no campo.